quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Aqui na minha varanda, em meio a este verde, todas as manhãs de verão eu tomo café cercada de pássaros, o chão salpicado de alpiste para que se aproximem. E o fazem com segurança de quem sabe que não há riscos há temer. Eu amo as flores, os pássaros, os cães e gatos, a música e a literatura, meu vício é o cinema.
Não nasci para ser uma mulher de negócios, nem para ser alguém que suga para si a vida alheia e dela vive e tira o seu sustento. Não sou intermediária de nada, não me aliemento dos dramas e tragédias de pessoas que julgam encontrar em alguém uma solução que está apenas dentro de si. Não tenho teorias prontas, nem cartilhas de certo e errado a seguir. Sou intuitiva e sigo a minha emoção. Não passo por cima de um ser humano sem olhá-lo por ter uma teoria de que ajudar o próximo é ruim. Detesto pessoas que passam a vida teorizando e não resolvem a sua própria vida. São como aves de rapina, se alimentam do outro e de suas dores. Apesar disto sou urbana, sinto falta do som da cidade, das luzes, do movimento, das oportunidades para os jovens que começam sua caminhada.
Bem, a pedido de muitos amigos recentes, falei um pouco sobre mim e prometo que logo vou atualizar os meus dois blogs com trabalhos recentes. Poemas, Textos, Artigos, tudo aquilo que possa servir para refletir e com vocês eu sigo o meu aprendizado.
Um abraço a todos
Houve um tempo que a visão deste mar de ouro me transtornava. Eu não sabia viver sem mar. O mundo ao meu redor precisava espelhar o sol deitando lentamente no horizonte. Eu ficava contemplando aquele explendor e meditando, como podia ser tão lindo e repetir-se um dia após o outro. Finalmente percebi que tudo na criação se repete, assim é com todos nós. Partimos lentamente num dia e no outro renascemos tal a Fênix bela e flamejante, apenas o tempo do nosso tempo é diferente deste que percebemos na natureza. Se tudo fenece e renasce, porque seria diferente com a mais perfeita obra divina?
Para que temer então, se o outro lado do nosso horizonte também é infinito e belo?
Nas solas dos meus pés, a tera da minha terra. Floripa, adeus! Eu sou guria do Menino Deus. E tanto sou que caminhando pelas ruas que cresci e que passei por muitas e muitas vezes, meu coração não sabia definir o tom daquele sentimento que o preenchia. Andando pela Praia de Belas redescobri as Damas da Noite sombreando as calçadas, aquele aroma que me remetia a outros tempos e eu não lembrava, na minha terra ele perfuma o ar de todo lugar. E não cansei de caminhar durante o tempo todo, mesmo sem destino, meu rumo era apenas um encontro comigo mesma. Parei diante da casa que nasci, que minha mãe nasceu e revivi por alguns instantes todas as lembranças que me são mais preciosas. Meus natais, anivesários, o som da voz dos meus amados que se foram e sei que me esperam. Mesmo longe eu retorno tantas vezes em sonhos à minha casa amarela, que lá está, hoje tão acanhada em meio ao desenvolvimento que tem tamanho bem maior. Mas ela resiste, talvez porque o meu grande amor segure suas raizes fincadas naquele chão, onde meus pés descalços sentiram o calor dos verões. Foram exatos cinquenta dias de prazer avassalador, que me restaurou tudo o que estava precisando de uma fonte de vida. Voltar foi também avassalador, não encontro palavra melhor para definir o bem e o mal que a ida e a vinda me causaram.
Porto Alegre, Menino Deus, lá é o meu lugar, lá eu nasci e lá quero dar o último suspiro antes de fechar meus olhos.
Lá está a lua dos poetas, eu a convido para ser minha cúmplice todas as noites, minha plantonista das madrugadas, já que agora estou só, pois meu companheiro de jornada, Mr. Pavarotti, meu lindo gato siamês que foi assassinado no reveillon de 2003 em Ponta das Canas, já não está mais comigo, eu, sua bruxa, nós tinhamos um pacto de sermos juntos um só defunto. Ele me abandonou e a vida que perdeu era a sua última, mas sei que nos encontraremos um dia, porque com certeza ele já foi um poeta boêmio. Adorava quando eu lia meus textos e poemas para ele, que ouvia com seus olhos azuis rasgados semiscerrados, depois dava o ar da sua graça, mesmo se eu não pedisse. Agora não tenho com quem dividir as madrugadas, então deixo a porta aberta para a lua ficar me espiando.
Através da sacada do meu estúdio de trabalho, todas estas cores me encantam e inspiram, a natureza é um alimento para a minha alma de poeta, que nesses momentos introspectivos de criação, quando converso comigo mesma, entro no lado esquerdo do meu peito e percorro meus corredores de segredos inquietantes, de sabedorias que vieram impregnadas de outros tempos de mim mesma. Existe duas formas de produção da minha criação literária, uma toma conta de mim como se eu não fosse mais dona da minha vontade, então ela nasce inteira, como se eu fosse apenas um instrumento de uma vontade desconhecida que habita em algum lugar de mim mesma. A outra forma é subjetiva e contemplativa. Eu saio pela rua observando em redor, ouço pedaços de conversas, vejo formas e construo histórias a respeito das pessoas que passam, que falam comigo, construo histórias com meias verdades, outras com meias mentiras. Sou uma contadora de histórias, seja em verso ou prosa, mas esta é a minha missão na terra, esta é a minha forma de ver através das máscaras, sejam a proteção de belas ou de feras, mas sempre estão lá, de uma forma ou de outra eu sempre consigo ver por trás delas, às vezes leva um tempo maior, porque o que tem por trás é tão terrível que a proteção é feroz.
Mas eu continuo a minha caminhada, dias inspirada, longos períodos com os meus pés no chão, porque todos que me conhecem sabem, eu sempre tive asas e como voei, voei muito por amores, por caminhos, por vezes com as asas feridas andei lentamente em meio a espinhos, sangrando, mas jamais deixei de olhar em frente e ver aquela linda luz que aguarda as almas abençoadas.
Esta é uma breve pincelada sobre mim, para todos aqueles que tem mandado e-mails e pedido por meus livros. Eles virão em breve.