segunda-feira, 2 de maio de 2011

INFERNO E PARAÍSO

A madrugada pertence aos solitários,
bêbados, mendigos, damas decadentes,
e aos poetas, que dentre todos estes
é o ser mais instigante e incoerente.

Vive em dois mundos, inferno e paraíso,
ama o abstrato e o absurdo apaixonadamente,
transforma em palavras os sentimentos,
seu significado quer tirar de dentro.

E ri, chora e devaneia simultaneamente,
ama, sofre e odeia em busca de aventura,
vive atormentado permanentemente,
pois sente a dor de toda criatura.

Todos os amantes são seus parceiros
e habilmente ele os disseca por inteiro,
é particularmente tudo o que existe
e, no geral, faz parte da elite.

O dedo no gatilho vive preparado
para sujar o papel do sangue derramado,
conhece todo o tipo de aflição,
cada face nua e perversa do pecado.

Conjuga naturalmente o verbo enlouquecer
a qualquer hora, por dentro ou por fora,
com os olhos iluminados pelo mais puro prazer,
o poeta anda na corda bamba para o que der e vier.

Apenas ele, durante um incêndio,
tranquilamente escreve um compêndio,
em verso ou em prosa, tanto faz, expõe a alma,
sem compromisso com a paz, às vezes perde a calma.

E grita, se agita, delira em branco e preto,
como se o mundo inteiro fosse um coreto.
No banquete da vida ele se lambuza
de todas as emoções humanas ele usa e abusa.

A madrugada pertence aos solitários,
damas decadentes, bêbados e mendigos,
e aos poetas que dentre todos eles
é com certeza o solitário mais antigo.

Liane flores - do livro Na Teia da Aranha dir.res

Nenhum comentário:

Postar um comentário