sábado, 12 de junho de 2010
Todos os textos e poemas aqui divulgados estão protegidos por Direitos Autorais para Liane Flores e Editora Movimento. Estão publicados nos livros impressos pela Editora Proletra, O Grande Ausente, A Outra Face, Para Um Homem Chamado Silêncio, Os Bruxos ( coletânea de Poemas dos empregados da Caixa Federal).
Editora Proletra - Av.João Pessoa, 345 - Porto Alegre/RS
Editora Movimento: 05132320071
e-mail da autora: lilicattmoon@yahoo.com.br
Editora Proletra - Av.João Pessoa, 345 - Porto Alegre/RS
Editora Movimento: 05132320071
e-mail da autora: lilicattmoon@yahoo.com.br
quarta-feira, 9 de junho de 2010
NA TEIA DA ARANHA
Na Teia da Aranha e Outros Enredos são pensamentos que jorram em verso e prosa, assim como se
fossem vida escapando através das palavras, que caem apressadamente no papel, de qualquer jeito,
como se tivessem medo de sumir num turbilhão de sentimentos, quando a sua única vontade é desnudarem a alma. São como pegadas que vão ficando coladas nos caminhos da vida, minhas teias, eu, esta aranha doce e venenosa, cruel e generosa, mansa e perigosa, porém uma construtora que vai articulando um mundo
tênue e transparente, de cuja janela posso observar cada vez mais longe.
fossem vida escapando através das palavras, que caem apressadamente no papel, de qualquer jeito,
como se tivessem medo de sumir num turbilhão de sentimentos, quando a sua única vontade é desnudarem a alma. São como pegadas que vão ficando coladas nos caminhos da vida, minhas teias, eu, esta aranha doce e venenosa, cruel e generosa, mansa e perigosa, porém uma construtora que vai articulando um mundo
tênue e transparente, de cuja janela posso observar cada vez mais longe.
domingo, 6 de junho de 2010
CAMUFLAGEM
Dizem que preciso mudar o meu modo de pensar,
o meu modo de agir,
o meu jeito de falar, da calar,
neste medo que eu tenho hoje até de existir.
Dizem que esta letargia vai arruinar a minha vida.
Sei bem que estas covardias impregnadas
vão me levando ao pânico e à estagnação.
Quero movimentar-me, não consigo... cadê coragem?
Sempre tive meus códigos de sobrevivência
e, de tempos em tempos, é cíclico,
retorno ao conforto e proteção do meu próprio útero,
enclausurada,
prefiro não pular muros,
nem levar porradas,
cedo à exaustão das múltiplas escolhas.
Sou por vezes, como uma aranha,
que parece estar adormecida no centro da teia,
fazendo uma participação quase que oculta na paisagem.
Mas é um engano!
Fico aguardando apenas a hora mais oportuna
para descer pelo fio
e, de um só golpe, surpreender quem me espreita
para o abate.
Texto de Abertura do livro Na Teia da Aranha
Direitos Autorais: Liane Flores - Ed. Movimento
sábado, 5 de junho de 2010
SENHORA DAS MAGIAS
Esta colcha de lembranças,
de momentos inesquecíveis,
de sonhos enlouquecidos
por medos jogados nos cantos,
nos pontos internos mais fundos,
das partes centrais mais difíceis.
EU SENHORA DAS MAGIAS
com visões de muitas eras,
trago feitiço no sangue
rasgando no tempo as quimeras.
Todo o mar que me habita,
todo o verde da floresta,
toda a marca que carrego,
tanta dor e tanta festa,
o muro que me aprisiona
tem o teu nome gravado,
todo o vento que me açoita
me carrega pro teu lado,
na terra que me fecunda
tua semente floresce
com sinal na minha testa.
As lutas, brigas, desforras,
te gravam no meu destino,
pra serenar tua alma
deste amor desesperado,
molhado de tanto pranto,
sofrido, injusto, magoado,
amor que maltrata e sufoca,
que fere de qualquer jeito,
desses que se carrega
pra sempre dentro do peito.
Tenho sonhos desenhados
em poemas intermináveis,
o dom mútuo dos amantes,
desejos nas pontas dos dedos,
palavras gravadas na mente
com tinta vermelha de sangue
das partes de nós mais feridas,
repletas de dor e silêncios,
segredos e aflições medonhas
que guardam as juras secretas.
TU SÓ NESSE QUARTO SECRETO,
EU SÓ NESSE ESCURO, MEU TETO,
COBERTOS PELA MESMA AUSÊNCIA,
NÓS DOIS!
Teço a colcha de lembranças
e todo o mar que me habita
sussurra teu nome e me agita,
todo o verde das florestas
pinta teus olhos nos cantos
das paredes, pelas frestas.
A lua da nossa festa,
testemunha incansável
do girar de nossas vidas,
roda-viva nas arestas,
risos, choros, despedidas.
Todo o vento que me açoita,
traz a terra que fecunda,
todos os rumos do meu corpo
tem sinais da tua marca,
presságios do meu destino,
que te trouxeram menino
bem depois da minha Era.
Nas linhas da mão esquerda,
o mapa da minha vida
diz que és meu alimento,
remédio pra minha ferida,
sangue queimando nas veias,
minha poção de veneno,
minha hora mais temida.
Não sou tua por direito,
és filho de um outro tempo,
espaço que já não tenho
para deitar no teu leito,
serenar a minha alma
desse amor desesperado,
que nos olhos me ofereces
de tanto pranto molhado,
teu e meu, justo e perfeito,
amor que sufoca e maltrata,
que vive de qualquer jeito,
desses que se carrega
PRA SEMPRE DENTRO DO PEITO.
Poema do livro Para Um Homem Chamado Silêncio - dir.res.Liane Flores
UM SER AZUL MUTANTE
Um relâmpago estremeceu os céus
e os ventos do norte viajaram para o sul,
cavalgando nas espirais do arcoíris,
pintando o mar dos meus temores de azul.
Eu vi uma lua feita de estrelas,
iluminada pela luz do sol
e era tanta beleza refletida
que não cabia na alma de um mortal.
Fui arremessada pela força de um Poder,
fui ora fauna, ora flora, ora mineral,
através de séculos e séculos de saber,
e mutações indescritíveis da minha alma imortal.
Nos fragmentos do tempo vislumbrados,
em cada morte a história era repetida,
eu me regenerava em um lilás sem fim
e renascia azul para uma nova vida.
Como a lagarta quando troca a sua pele,
deixando brotar do pobre ser que finda
a borboleta bela, multicolorida,
criatura única,preciosa e linda.
E se antes, o meu pobre ser anscestral
ainda era limitado ou rastejante,
nas asas da liberdade desta vida que surgia
eu explodia num ser azul mutante.
VIAJANTE DO TEMPO - da série Sonhos - livro Para Um Homem Chamado Silêncio
VIAJANTE DO TEMPO - da série Sonhos - livro Para Um Homem Chamado Silêncio
sexta-feira, 4 de junho de 2010
CULPADA OU INOCENTE
Hoje é o dia da semente proibida
que tem uma serpente como guardiã.
Desafiando a lei celestial, ainda inocente,
vou colher a parte que me cabe
do pecado original: A maçã!
E com a pele da obediência descartada,
sem rótulos,
sem embalagem,
vou dar início a uma nova caminhada.
Hoje é o dia da desforra,
vou provar do fruto proibido,
com salvo-conduto, com absolvição.
E, ao contrário do que se pensa,
cumprindo a sentença
pela falta de juizo,
culpada ou inocente,
como recompensa,
vou conhecer o paraíso.
do livro Para Um homem chamado Silêncio
direitos reservados Liane Flores
.
POR TODOS OS SÉCULOS E SÉCULOS AMÉM
O amor!
Eis a obra prima da criação.
Abstrato, poderoso, insuperável,
indivisível, revel, indestrutível!
Nem animal, nem vegetal, nem minaral,
porém a própria essência desses elementos.
Concepção divina e imaculada da gênese.
Esmagado, ferido, humilhado,
devorado, sobrevive
e sobrevivo preserva a inteireza.
É o grito da vida!
É a dança da vida!
No cio de toda a natureza gera,
preenche ventres, lançando sêmens,
formando ovos, flores, frutos,homens,
seres em todas as suas formas,
seres em todas as suas espécies,
seres em todas as suas mutações.
E TEM SIDO SEMPRE ASSIM
HÁ INEXATILHÕES DE SÉCULOS1
Houve um tempo
em que eu preferi não tê-lo conhecido,
melhor seria
percorrer a ausência de luz
que habita o desconhecimento.
Quando ele chegou,
o impossível concretizou-se
em tudo o que havia na minha vida,
mas por medo, por covardia
evitei-o,
fechei a porta,
uma, duas, tanta vezes...
E o que importa
se eu já sabia
que sem ele
seria a própria vida
que me faltaria?
NOSSO AMOR DE ONTEM
Eu sempre te buscava
em cada movimento pela rua,
te queria todo meu,
me queria ilegalmente tua,
sem contrato de reserva,
sem escritura, sem ressalva,
incondicionalmente predestinados
e condenados até a morte,
cumprindo a mesma pena
de paixão perpétua,
num sentimento de segurança máxima.
Valeu!
Depois de ti,
mais nada aconteceu.
Se fico no silêncio
mesmo longe eu te escuto.
Hoje estou de luto,
vivo soterrada pela rotina
e cada segundo após o outro
vai me dizendo,
que tudo o que vivemos está morto.
Ah! Meu amor,
se eu pudesse
dobrar o tempo em dois
entre as duas metades
( o antes e o depois)
construíria um muro alto
e viveria outra vez
o que aconteceu no meio.
Mesmo no sobressalto
e no receio,
mesmo nos dissabores
vivi intensamente por mil anos
por mil vidas,
por mais de mil amores
Eu sou aquela que dança na tua fantasia
e te pinta com as cores da saudade,
que te aquece o corpo todo
quando te invade
num convite ao irrecusável,
independente da tua propria vontade.
Sou como o albatroz que
sorrateiramente deslisa pelas águas
em busca da presa,
seu alimento,
assim,
meu coração avança passo a passo rumo ao teu coração.
Devagar, sem ruído para não perder o bote,
num transe quase hipnótico.
Poemas do Livro Para Um Homem Chamado Silêncio
dir.res. Liane Flores - Editora Movimento
e te pinta com as cores da saudade,
que te aquece o corpo todo
quando te invade
num convite ao irrecusável,
independente da tua propria vontade.
Sou como o albatroz que
sorrateiramente deslisa pelas águas
em busca da presa,
seu alimento,
assim,
meu coração avança passo a passo rumo ao teu coração.
Devagar, sem ruído para não perder o bote,
num transe quase hipnótico.
Poemas do Livro Para Um Homem Chamado Silêncio
dir.res. Liane Flores - Editora Movimento
O GRANDE AUSENTE (PARTE II - A Despedida)
Nunca mais
teus olhos nos meus olhos
nunca mais.
Eu, ouro em pó, como dizias,
derramando sobre mim
teu cálice sagrado de sabedoria.
Nunca mais
um encontro casual
entre nós dois
que Deus juntou um dia
ou a tua voz rouca
repleta de ironia,
dom que me ensinaste,
com o qual eu regi
a música que deu fundo
a nosso história,
eu sempre no teu coração
tu comigo sempre na memória.
Nunca mais
as tuas sábias palavras
chegarão aos meus ouvidos
trazendo toda aquela paz.
Me disseste que partirias
no dia que ficamos na janela
olhando o mar.
Eu te sorri
pois pressenti que pressentias
(como sempre, meu amor)
que naquela exata hora
de mim te despedias
(porque já sabias)
e com a mesma naturalidade
que me chegaste, disseste adeus.
Eu aceitei
Hoje,
alguém que conhecemos
e que nos conhecia
contou-me como foi
teu último dia,
meu herói de sempre
cavalheiro que se foi
da mesma forma que viveu
(morreu).
Com o teu sorriso largo,
o teu sabor de vinho
o teu carinho,
doando-se à vida,
todo o teu ser se misturando
aos pássaros e flores,
árvores e pedras,
terra e água,
o vento levando tuas cinzas
numa transmutação sagrada,
teu último projeto,
tua última obra de arquiteto,
tu meu amor, fazendo parte da paisagem,
de um universo repleto de ti.
Lamento pela morte de um grande amor - 1998 - Liane Flores .
O GRANDE AUSENTE ( poema para um grande amor)
Nunca mais
olhos nos olhos
ardendo de desejo
nunca mais,
tua boca em minha boca,
o gosto dos teus beijos
nunca mais,
teu corpo no meu corpo,
minhas mãos nos teus cabelos,
revoltos, macios, teus pêlos.
Nunca mais
meu ninho nos teus braços,
tuas queixas,
teus cansaços,
teu riso largo
teus abraços,
o teu carinho,
o teu sabor de vinho
nunca mais.
Poema tema do Livro O Grande Ausente - 1980 - Editora Movimento
direitos autorais - Liane Flores
De olhos fechados, no escuro do meu quarto
é inútil que eu tente afastar o teu veneno
HOMEM SERPENTE DE ASAS,
e através dos sentidos, teus encantamentos,
a explosão de desejos proibidos se faz presente.
Frequentas os meus sonhos sem convite
e por mais que eu te evite
HOMEM TENTAÇÃO me caças!
Tua sombra horizontal deixa marcas em meu lençol,
teu riso assombrado e o teu olhar oblíquio
me confundem, temperando o teu mistério,
HOMEM ADULTÉRIO!
D
TEU NOME É TEMPESTADE
Identifiquei os teus contornos lá no horizonte,
onde o céu abraça o mar.
Um clarão azul me trouxe a tua presença
antes mesmo de chegares...
Por que te fizeste nuvem,
se na verdade o teu nome é TEMPESTADE?
Senti no clamor do vento tua presença imponderável
e ouvi o rugir da tua voz que me chamava.
Inundaste tudo, meu corpo, minha mente, minha vontade...
Por que te fizeste nuvem
se na verdade o teu nome é TEMPESTADE?
Eu fugia, eu corria
mas a tua força incontestável me submetia.
Adequei-me a ti, exausta,
e por ti inebriada eu perguntava:
Por que te fizeste nuvem,
se na verdade o teu nome é TEMPESTADE?
onde o céu abraça o mar.
Um clarão azul me trouxe a tua presença
antes mesmo de chegares...
Por que te fizeste nuvem,
se na verdade o teu nome é TEMPESTADE?
Senti no clamor do vento tua presença imponderável
e ouvi o rugir da tua voz que me chamava.
Inundaste tudo, meu corpo, minha mente, minha vontade...
Por que te fizeste nuvem
se na verdade o teu nome é TEMPESTADE?
Eu fugia, eu corria
mas a tua força incontestável me submetia.
Adequei-me a ti, exausta,
e por ti inebriada eu perguntava:
Por que te fizeste nuvem,
se na verdade o teu nome é TEMPESTADE?
Reféns
Eu sei que em certas horas
és como eu, criatura da noite,
e uivas para a lua
preso no teu lobo solitário
em busca da tua fêmea.
Teu uivo é um lamento
que ela escuta através do vento
e com o olhar incandescente
observa-te à distância,
também lamenta.
Há um fogo nela,
é o mesmo fogo que te queima
do livro Para um homem chamado silencio direitos reserv. Liane flores
és como eu, criatura da noite,
e uivas para a lua
preso no teu lobo solitário
em busca da tua fêmea.
Teu uivo é um lamento
que ela escuta através do vento
e com o olhar incandescente
observa-te à distância,
também lamenta.
Há um fogo nela,
é o mesmo fogo que te queima
do livro Para um homem chamado silencio direitos reserv. Liane flores
Eu Vestal e tu Navegador
Vestal
há doze séculos fui.
E lá,
entre os elementos,
uniu-nos o poderoso Zar.
Nos possuímos
na escuridão
entre os desatinos.
Navegador tu eras
e meus sete mares percorreste todos.
Era o teu destino!
Doze séculos se passaram,
doze mutações sofremos,
mas meus olhos perceberam
nos teus olhos,
reflexos de luzes das luas
de nossa ilha submersa.
Doze séculos,
eu Vestal e tu Navegador,
na máquina do tempo
desse indestrutível amor.
SEPARAÇÃO
A porta se fechou
e a minha alma se partiu em duas
poças de sangue
de verdades nuas.
Uma delas arrastei pelas escadas,
aflorando tantas coisas adormecidas,
libertando outras tantas sufocadas,
pela falta de tempo,
por palavras nunca ditas,
engasgadas.
E mesmo com a vida me fungindo,
eu fui sorrindo,
eu fui calada pela estrada
que me levou a lugar nenhum
era aí que tu estavas.
Então eu percebi
que sem alma não se vive
e retornei.
Cheguei a tua porta
numa noite fria
e a luz por baixo dela me dizia
que eu era pressentida
e esperada
e que a tua alma
partida junto a minha
o teu sono vigiava
do livro O Grande Ausente - 1980 - Ed. Movimento
RENÚNCIA - COMO DIRIA BILAC
Como salvar a alma impotente e vazia, cativa do amor ao qual renunciou um dia?
Como libertar o que a razão esconde,o que a mão não transcreve?
Desvalida em uma cruz pressente que em breve as palavras não satisfarão o que a razão lhe pede.
Existirão palavras que possam traduzir tal sofrimento?
E a grande aflição a qual mascara em risos?
E as confissões de amor que nega aos seus ouvidos
e o grito de revolta que abranda em gemidos?
Sob os seus pés falta o solo firme. Procuara recuar tentando a sua sorte
e busca acreditar que é muito mais sublime, ter condenado seu coração à morte.
do livro A Outra Face - 1983 - Ed. Movimento
Como libertar o que a razão esconde,o que a mão não transcreve?
Desvalida em uma cruz pressente que em breve as palavras não satisfarão o que a razão lhe pede.
Existirão palavras que possam traduzir tal sofrimento?
E a grande aflição a qual mascara em risos?
E as confissões de amor que nega aos seus ouvidos
e o grito de revolta que abranda em gemidos?
Sob os seus pés falta o solo firme. Procuara recuar tentando a sua sorte
e busca acreditar que é muito mais sublime, ter condenado seu coração à morte.
do livro A Outra Face - 1983 - Ed. Movimento
TRANSCENDÊNCIA
É o teu espirito
que desejo aprisionar,
quando (em meus braços)
marco a tua carne
e tuas retinas atravesso
em viagens cada vez mais prolongadas.
É a tua alma
que precisas entregar-me
quando (em teus brçaos)
marcas a minha carne.
do livro A Outra Face - 1983 - Editora Movimento
FASCINAÇÃO
Quando adivinho
a tua presença mansa
e ouço a tua voz
que fala entrecortada
por outras vozes
que ora te interrompem,
então te reproduzo
em tudo o quanto vejo
e no que faço
sempre estás presente,
meus olhos te procuram
como fossem pássaros
e apenas os sentidos
me orientam os passos.
Do livro A Outra Face - Ed. Movimento - 1983
a tua presença mansa
e ouço a tua voz
que fala entrecortada
por outras vozes
que ora te interrompem,
então te reproduzo
em tudo o quanto vejo
e no que faço
sempre estás presente,
meus olhos te procuram
como fossem pássaros
e apenas os sentidos
me orientam os passos.
Do livro A Outra Face - Ed. Movimento - 1983
INCOERÊNCIA
Em que fração do tempo
ficou aquele momento mágico
conciliador da cabeça com as emoções?
Desertas?
Acaso temes o destemido,
aquele que se arroja ao desabrigo
que o ronda o fascínio das paixões?
Entrega!
Teu corpo todo pede
o que a razão te nega...
vive intensamente,
pois a vida é fracionada em momentos,
alguns bons,
outros maus,
nenhum eterno.
Há pouco de verão
e muito de inverno
em cada grande amor que vais viver.
do livro A Outra Face- Ed. Movimento 19803 dir.res.Liane Flores
ficou aquele momento mágico
conciliador da cabeça com as emoções?
Desertas?
Acaso temes o destemido,
aquele que se arroja ao desabrigo
que o ronda o fascínio das paixões?
Entrega!
Teu corpo todo pede
o que a razão te nega...
vive intensamente,
pois a vida é fracionada em momentos,
alguns bons,
outros maus,
nenhum eterno.
Há pouco de verão
e muito de inverno
em cada grande amor que vais viver.
do livro A Outra Face- Ed. Movimento 19803 dir.res.Liane Flores
DOCE ESTRANHO ENCANTO MEU
ESTRANHO, doce encanto meu,
nada sei de ti,
mas estou cansada deste caos,
na espera de um novo entardecer.
Senta aqui comigo neste cais
e aporta neste pôr-do-sol,
hoje estou aqui,
quem sabe amanhã onde estarei?
minha alma é um pássaro fugaz
à procura de um porto ideal.
ENCANTO, doce estranho meu,
nada sabes de mim,
na espera estou de um novo cais,
cansada deste entardecer.
Senta aqui comigo neste pôr-do-sol
e aporta neste caos.
Amanhã ESTOU aqui,
hoje quem sabe onde ESTAREI...
Minha alma é um porto tão fugaz,
à procura de um pássaro ideal.
nada sei de ti,
mas estou cansada deste caos,
na espera de um novo entardecer.
Senta aqui comigo neste cais
e aporta neste pôr-do-sol,
hoje estou aqui,
quem sabe amanhã onde estarei?
minha alma é um pássaro fugaz
à procura de um porto ideal.
ENCANTO, doce estranho meu,
nada sabes de mim,
na espera estou de um novo cais,
cansada deste entardecer.
Senta aqui comigo neste pôr-do-sol
e aporta neste caos.
Amanhã ESTOU aqui,
hoje quem sabe onde ESTAREI...
Minha alma é um porto tão fugaz,
à procura de um pássaro ideal.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Pequena Grande Mulher
Bati a tua porta
com a garganta emudecida
como se a tua dor
fosse lasciva dentro do meu peito.
Já nas escadas,
intransigente como sempre fui
comigo mesma,
proibi meus olhos de chorar.
Busquei palavras,
eu que sempre compartilhei com elas
todos os negros e rosas da minha vida
não encontrei,
elas me abandonaram,
não foram cúmplices,
me renegaram.
O que dizer?
Não disse nada, mas sei que entendeste. foto de Jaciângela
Sofri por ti, uma parte tua foi arrancada.
Sofri por mim, por todos nós.
Envergonhei-me por encontrar em ti
a força que deveria transmitir-te.
Então teus olhos tristes me sorriram
e eu soube que irias superar.
( para minha amiga Jaciângela )
Do livro O Grande Ausente - 1980 - Ed. Movimento
com a garganta emudecida
como se a tua dor
fosse lasciva dentro do meu peito.
Já nas escadas,
intransigente como sempre fui
comigo mesma,
proibi meus olhos de chorar.
Busquei palavras,
eu que sempre compartilhei com elas
todos os negros e rosas da minha vida
não encontrei,
elas me abandonaram,
não foram cúmplices,
me renegaram.
O que dizer?
Não disse nada, mas sei que entendeste. foto de Jaciângela
Sofri por ti, uma parte tua foi arrancada.
Sofri por mim, por todos nós.
Envergonhei-me por encontrar em ti
a força que deveria transmitir-te.
Então teus olhos tristes me sorriram
e eu soube que irias superar.
( para minha amiga Jaciângela )
Do livro O Grande Ausente - 1980 - Ed. Movimento
terça-feira, 1 de junho de 2010
PEDÁGIO RUMO AO TRAVESSEIRO
Engraçado como algumas pessoas cobram uma responsabilidade maior da minha literatura. Exigem de mim um comprometimento mais engajado. Acham desperdício de talento escrever sobre o amor, enquanto o caldo da cultura do nosso país borbulha sobre o fogo da desigualdade social.
Certamente eu poderia escolher estes caminhos tão ricos, assuntos polêmicos a serem debatidos exaustivamente, que já foram por tantos, por tanto tempo, numa época em que quase todos os trens circulam por aí, totalmente fora dos trilhos.
Entretanto prefiro falar do amor, mesmo que utópico me fascina, embala a alma observar os melhores sentimentos humanos, estejam eles dentro ou fora de mim.
Quanto à literatura sempre tive uma grande curiosidade a respeito de cada escritor, sobre a verdadeira interpretação de sua obra.
Lembro com muita frequência dos meus professores, cheios de certeza, sobre o que significava cada parágrafo de um texto ou de um poema. Eles interpretavam com tanta propriedade o que o autor queria dizer, sob a sua ótica pessoal naturalmente, e nos impunham a sua verdade absoluta, engessada.
Hoje quando escrevo fico divagando sobre tudo o que ouvi na escola e quantas notas inadequadas me foram dadas, motivadas por uma convicção subjetiva de um professor/leitor mal avisado.
Quem pode ter certeza sobre o que um autor quer dizer?
Já ouvi dos meus leitores interpretações que me deixaram de boca aberta! Foram argumentações tão absurdamente fantásticas e que nada tinham a ver com o que eu havia sentido ou pensado na hora de produzir.
Mas aí reside o prazer da literatura e de toda a forma de arte, cada um sentir particularmente e trazer a obra para a sua vida pessoal.
Enfim, dizem que se um escritor precisa explicar ao leitor o sentido exato daquilo que escreveu, um dos dois é incompetente. Toda a forma de expressão deve ser totalmente aberta e livre à emoção e intuição de cada observador, assim a corrente da criação vai produzindo novos elos, fortalecendo sejam as idéias, as imagens, os sons. A emoção que causa é tudo.
Deveria existir pena de morte para quem pensa pelos outros, para quem impede o próximo de crescer ou trilhar sua própria caminhada rumo à compreensão, principalmente no que se refere à emoção, sentimento que invariavelmente induz a um instante belo e único na viagem ao imaginário.
Eu sou frenética com as palavras que transbordam não sei de onde, borbulhando pensamentos que se derramam em verso ou prosa, idependente da minha vontade.
A tinta no papel é o meu próprio sangue derramando...
Muitas vezes o meu cérebro trava lutas impertinentes com o meu corpo, que exaurido decreta estado de sítio, dá o toque de recolher, quase que em calamidade incondicional.
Nessas horas desligo o computador e a contragosto vou me deitar.
Em seguida, no escuro, brota uma idéia sensacional e a luta reinicia. O cérebro que é um general cinco estrelas ordena que o corpo retorne ao trabalho. Este, preguiçoso recusa-se a atender ao comando e cheio de confiança registra que a idéia é tão comum, sendo portanto impossível não lembrar dela com clareza no dia seguinte.
Fico ali, dentro e fora de mim, observando aquela batalha que continua por tempo indeterminado.
O cérebro não apaga a luz da razão, o corpo não apaga com aquela luz intermintente. Se porventura o corpo vence, no outro dia eu o amaldiçôo, pois obviamente a idéia foi suprimida pelo cérebro só de vingança.
Esta é a sina de todos os escritores, penso eu.
Mesmo agora tive que deixar o aconchego macio dos meus lençóis para vir editar este texto. Meu cérebro comandou em ultimato: ou escreve ou não dorme!
Dureza! Não tive outra alternativa senão atendê-lo, mesmo às duas horas da madrugada.
Santo Deus! Eu bem que poderia ter sido brindada com outra habilidade menos cansativa, como correr maratonas no deserto africano ou amestrar elefantes sagrados em Katamandu.
Este levantamento de idéias me deixa quebrada, insone, assim sou plantonista das madrugadas desde que me conheço por gente.
Minhas mãos são atletas dignas de medalha de ouro.
Por tudo isto não acreditem em nada que dizem os pseudo-entendidos em literatura, quando decretarem:
o autor quis dizer...
Na grande maioria das vezes o autor não queria dizer nada, queria apenas passaporte para o travesseiro e,
para tal, precisou pagar pedágio ao cérebro.
Boa noite, ou será Bom dia?
Liane Flores - texto publicado para Mostra de Arte da Caixa, realizada no Shopping Itaguaçu - 1990
Certamente eu poderia escolher estes caminhos tão ricos, assuntos polêmicos a serem debatidos exaustivamente, que já foram por tantos, por tanto tempo, numa época em que quase todos os trens circulam por aí, totalmente fora dos trilhos.
Entretanto prefiro falar do amor, mesmo que utópico me fascina, embala a alma observar os melhores sentimentos humanos, estejam eles dentro ou fora de mim.
Quanto à literatura sempre tive uma grande curiosidade a respeito de cada escritor, sobre a verdadeira interpretação de sua obra.
Lembro com muita frequência dos meus professores, cheios de certeza, sobre o que significava cada parágrafo de um texto ou de um poema. Eles interpretavam com tanta propriedade o que o autor queria dizer, sob a sua ótica pessoal naturalmente, e nos impunham a sua verdade absoluta, engessada.
Hoje quando escrevo fico divagando sobre tudo o que ouvi na escola e quantas notas inadequadas me foram dadas, motivadas por uma convicção subjetiva de um professor/leitor mal avisado.
Quem pode ter certeza sobre o que um autor quer dizer?
Já ouvi dos meus leitores interpretações que me deixaram de boca aberta! Foram argumentações tão absurdamente fantásticas e que nada tinham a ver com o que eu havia sentido ou pensado na hora de produzir.
Mas aí reside o prazer da literatura e de toda a forma de arte, cada um sentir particularmente e trazer a obra para a sua vida pessoal.
Enfim, dizem que se um escritor precisa explicar ao leitor o sentido exato daquilo que escreveu, um dos dois é incompetente. Toda a forma de expressão deve ser totalmente aberta e livre à emoção e intuição de cada observador, assim a corrente da criação vai produzindo novos elos, fortalecendo sejam as idéias, as imagens, os sons. A emoção que causa é tudo.
Deveria existir pena de morte para quem pensa pelos outros, para quem impede o próximo de crescer ou trilhar sua própria caminhada rumo à compreensão, principalmente no que se refere à emoção, sentimento que invariavelmente induz a um instante belo e único na viagem ao imaginário.
Eu sou frenética com as palavras que transbordam não sei de onde, borbulhando pensamentos que se derramam em verso ou prosa, idependente da minha vontade.
A tinta no papel é o meu próprio sangue derramando...
Muitas vezes o meu cérebro trava lutas impertinentes com o meu corpo, que exaurido decreta estado de sítio, dá o toque de recolher, quase que em calamidade incondicional.
Nessas horas desligo o computador e a contragosto vou me deitar.
Em seguida, no escuro, brota uma idéia sensacional e a luta reinicia. O cérebro que é um general cinco estrelas ordena que o corpo retorne ao trabalho. Este, preguiçoso recusa-se a atender ao comando e cheio de confiança registra que a idéia é tão comum, sendo portanto impossível não lembrar dela com clareza no dia seguinte.
Fico ali, dentro e fora de mim, observando aquela batalha que continua por tempo indeterminado.
O cérebro não apaga a luz da razão, o corpo não apaga com aquela luz intermintente. Se porventura o corpo vence, no outro dia eu o amaldiçôo, pois obviamente a idéia foi suprimida pelo cérebro só de vingança.
Esta é a sina de todos os escritores, penso eu.
Mesmo agora tive que deixar o aconchego macio dos meus lençóis para vir editar este texto. Meu cérebro comandou em ultimato: ou escreve ou não dorme!
Dureza! Não tive outra alternativa senão atendê-lo, mesmo às duas horas da madrugada.
Santo Deus! Eu bem que poderia ter sido brindada com outra habilidade menos cansativa, como correr maratonas no deserto africano ou amestrar elefantes sagrados em Katamandu.
Este levantamento de idéias me deixa quebrada, insone, assim sou plantonista das madrugadas desde que me conheço por gente.
Minhas mãos são atletas dignas de medalha de ouro.
Por tudo isto não acreditem em nada que dizem os pseudo-entendidos em literatura, quando decretarem:
o autor quis dizer...
Na grande maioria das vezes o autor não queria dizer nada, queria apenas passaporte para o travesseiro e,
para tal, precisou pagar pedágio ao cérebro.
Boa noite, ou será Bom dia?
Liane Flores - texto publicado para Mostra de Arte da Caixa, realizada no Shopping Itaguaçu - 1990
MAS A VIDA TINHA QUE SEGUIR EM FRENTE
O que eu gostava nele era aquele romantismo de quem ouvia discos antigos e riscados, músicas de cabaré, de um tempo em que não havíamos transmutado.
Daquele costume de apertar os lábios e sorrir com ironia quando estava ferido de morte e do olhar verde mar perdido num ponto distante quando falava da sua triste infância de abandono e solidão.
Daquele jeito engraçado de bater a carteira de cigarros no dedo indicador, em que fazia um gesto sempre igual, com ar sério de compulsão obssessiva mal controlada.
Daquela calma dissimulada que era desmentida através dos movimentos sempre nervosos, sempre apressados.
Nunca me cansava de observar seus gestos e insanidades pragmáticas na estranha cumplicidade primitiva, que vinha de um outro tempo de nós dois, tipo cordão umbilical.
Com certeza vínhamos nos encontrando e nos perdendo por muitas existências. Ele nem precisava falar, eu adivinhava seus pensamentos. Eu nem precisava falar, ele antecipava os meus.
E aquelas centenas de páginas que escrevia noites e noites, transbordando um amor tão cego, tão absurdo, tão sem medidas?
Ele sempre insistia em ignorar o óbvio, como as marcas e cicatrizes que as diversas mutações imprimem as suas criaturas.
Ele era filho de um outro tempo, tempo que eu não tinha para compartilhar. Ainda assim me fazia sentir perfeita e única, o último amor tatuado no seu coração.
Dizia-se naufragado e ancorado eternamente nesse sentimento em todas as vezes que pedia que eu acreditasse ser possível. Deixava-me constrangida, puta da vida, sem argumentos que pudessem convencê-lo do contrário. Nessas horas o melhor era o silêncio, ficar paralizada para que o meu coração não pulasse
em suas mãos.
Egoísta sedutor! Dono de tão incontestável amor, do qual nem eu - incrédula pós-graduada ousava duvidar.
Quando lhe virei as costas deixei a vida pendurada por um fio invisível.
Fiquei sequestrada sem resgate, enlouquecendo pela vida afora, prisioneira daquele seu nó-de-marinheiro, indestrutível, secreto, jamais desfeito desde o primeiro encontro, nem por decreto!
Ele tinha parentesco com o fogo que consumiu a minha sanidade e por muito tempo fiquei presa nas ondas dos seu pensamento, via satélite lunar.
Mas a vida tinha que seguir em frente...
texto publicado - Direitos Autorais reservados -Liane Flores - 2003 -
Daquele costume de apertar os lábios e sorrir com ironia quando estava ferido de morte e do olhar verde mar perdido num ponto distante quando falava da sua triste infância de abandono e solidão.
Daquele jeito engraçado de bater a carteira de cigarros no dedo indicador, em que fazia um gesto sempre igual, com ar sério de compulsão obssessiva mal controlada.
Daquela calma dissimulada que era desmentida através dos movimentos sempre nervosos, sempre apressados.
Nunca me cansava de observar seus gestos e insanidades pragmáticas na estranha cumplicidade primitiva, que vinha de um outro tempo de nós dois, tipo cordão umbilical.
Com certeza vínhamos nos encontrando e nos perdendo por muitas existências. Ele nem precisava falar, eu adivinhava seus pensamentos. Eu nem precisava falar, ele antecipava os meus.
E aquelas centenas de páginas que escrevia noites e noites, transbordando um amor tão cego, tão absurdo, tão sem medidas?
Ele sempre insistia em ignorar o óbvio, como as marcas e cicatrizes que as diversas mutações imprimem as suas criaturas.
Ele era filho de um outro tempo, tempo que eu não tinha para compartilhar. Ainda assim me fazia sentir perfeita e única, o último amor tatuado no seu coração.
Dizia-se naufragado e ancorado eternamente nesse sentimento em todas as vezes que pedia que eu acreditasse ser possível. Deixava-me constrangida, puta da vida, sem argumentos que pudessem convencê-lo do contrário. Nessas horas o melhor era o silêncio, ficar paralizada para que o meu coração não pulasse
em suas mãos.
Egoísta sedutor! Dono de tão incontestável amor, do qual nem eu - incrédula pós-graduada ousava duvidar.
Quando lhe virei as costas deixei a vida pendurada por um fio invisível.
Fiquei sequestrada sem resgate, enlouquecendo pela vida afora, prisioneira daquele seu nó-de-marinheiro, indestrutível, secreto, jamais desfeito desde o primeiro encontro, nem por decreto!
Ele tinha parentesco com o fogo que consumiu a minha sanidade e por muito tempo fiquei presa nas ondas dos seu pensamento, via satélite lunar.
Mas a vida tinha que seguir em frente...
texto publicado - Direitos Autorais reservados -Liane Flores - 2003 -
PACTO PROFANO
Quando te conheci tinhas um olhar que parecia meio roubado do mar em dias de calmaria, assim meio verdes, tranquilos, mas o mar moço, nós dóis sambemos, é traiçoeiro e qualquer nuvem no horizonte
prenuncia tempestade.
Por muitas vezes pensei que tinhas "parte" e temi aproximar-me, ser cúmplice dos teus segredos, teus labirintos perigosos, tua dança sagrada de pés descalços, aquela bata florida de cabala.
Teus olhos semicerrados escondidos sob a aba negra do chapéu, um mistério que penetrou nas partes mais ocultas do desejo que habitava em mim.
Profano toque numa taça de cristal, que das tuas mãos eu recebi e dela eu bebi em outra primavera.
Foi um pacto de sangue enfeitiçando o meu imprevisível amanhã. Sem memória original senti um medo orgânico do invisível, de coisas do outro mundo, e minha frágil humanidade conheceu o desespero.
O teu riso assombrado contaminou meus sonhos arduamente construídos. Depois veio o vento que varreu a minha história, o meu passado, dores antigas, velhas feridas.
Não devias ter me assustado com esses olhos de alma do outro mundo, que tudo viam através da noite que me cobria, negra, sem lua.
Não devias ter me pintado com o verde dos teus olhos repletos de promessas e possibilidades, nas quais eu mergulhei sem salva-vidas. Tentei fugir de ti, não pude! A tua língua de comer insetos me alcançou e me colou entre as estrelas do céu da tua boca.
Então dei meu pescoço aos teus dentes de vampiro e meu sangue envenenou as tuas veias.
Parece coisa tão antiga, história de outra era.
Liane Flores - texto publicado em 2003 - Vai fazer parte da coletânea Na Teia da Aranha
prenuncia tempestade.
Por muitas vezes pensei que tinhas "parte" e temi aproximar-me, ser cúmplice dos teus segredos, teus labirintos perigosos, tua dança sagrada de pés descalços, aquela bata florida de cabala.
Teus olhos semicerrados escondidos sob a aba negra do chapéu, um mistério que penetrou nas partes mais ocultas do desejo que habitava em mim.
Profano toque numa taça de cristal, que das tuas mãos eu recebi e dela eu bebi em outra primavera.
Foi um pacto de sangue enfeitiçando o meu imprevisível amanhã. Sem memória original senti um medo orgânico do invisível, de coisas do outro mundo, e minha frágil humanidade conheceu o desespero.
O teu riso assombrado contaminou meus sonhos arduamente construídos. Depois veio o vento que varreu a minha história, o meu passado, dores antigas, velhas feridas.
Não devias ter me assustado com esses olhos de alma do outro mundo, que tudo viam através da noite que me cobria, negra, sem lua.
Não devias ter me pintado com o verde dos teus olhos repletos de promessas e possibilidades, nas quais eu mergulhei sem salva-vidas. Tentei fugir de ti, não pude! A tua língua de comer insetos me alcançou e me colou entre as estrelas do céu da tua boca.
Então dei meu pescoço aos teus dentes de vampiro e meu sangue envenenou as tuas veias.
Parece coisa tão antiga, história de outra era.
Liane Flores - texto publicado em 2003 - Vai fazer parte da coletânea Na Teia da Aranha
Retrato Falado
E esse topete engraçado de boneco dos desenhos animados?
E a tua boca de peixinho de aquário, abrindo e fechando em silêncio, parecendo um quadro mágico no cenário?
Ah! que vontade de morder as tuas bochechas de marshmaloow dessa tua cara deslavada de supermercado...
E esse teu gosto de geléia, teu cheiro de folha seca no telhado e o teu sorriso sem-vergonha de quem
prometeu e não cumpriu?
E as tuas mãos cheias de dedos irrequietos, sem destino, sem direção, movendo-se insistentemente na contramão, fazendo contravenção?
E esse teu jeito descarado de quem come lagartixas com catchup, depois se lambe e se deleita?
E essa tua aparência de vaso chinês, quano finges que não escutas, quando finges que não vês?
Adoro a tua risada escrachada... por tudo, por nada, essa alegria permanente na tua cara e principalmente
adoro quando colocas aquele nariz vermelho de palhaço que sempre trazes no bolso.
Ah! esse teu bolso sempre cheio de surpresas!
E a tua boca de peixinho de aquário, abrindo e fechando em silêncio, parecendo um quadro mágico no cenário?
Ah! que vontade de morder as tuas bochechas de marshmaloow dessa tua cara deslavada de supermercado...
E esse teu gosto de geléia, teu cheiro de folha seca no telhado e o teu sorriso sem-vergonha de quem
prometeu e não cumpriu?
E as tuas mãos cheias de dedos irrequietos, sem destino, sem direção, movendo-se insistentemente na contramão, fazendo contravenção?
E esse teu jeito descarado de quem come lagartixas com catchup, depois se lambe e se deleita?
E essa tua aparência de vaso chinês, quano finges que não escutas, quando finges que não vês?
Adoro a tua risada escrachada... por tudo, por nada, essa alegria permanente na tua cara e principalmente
adoro quando colocas aquele nariz vermelho de palhaço que sempre trazes no bolso.
Ah! esse teu bolso sempre cheio de surpresas!
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