sexta-feira, 4 de junho de 2010

O GRANDE AUSENTE (PARTE II - A Despedida)

Nunca mais
teus olhos nos meus olhos
nunca mais.
Eu, ouro em pó, como dizias,
derramando sobre mim
teu cálice sagrado de sabedoria.
Nunca mais
um encontro casual
entre nós dois
que Deus juntou um dia
ou a tua voz rouca
repleta de ironia,
dom que me ensinaste,
com o qual eu regi
a música que deu fundo
a nosso história,
eu sempre no teu coração
tu comigo sempre na memória.

Nunca mais
as tuas sábias palavras
chegarão aos meus ouvidos
trazendo toda aquela paz.
Me disseste que partirias
no dia que ficamos na janela
olhando o mar.
Eu te sorri
pois pressenti que pressentias
(como sempre, meu amor)
que naquela exata hora
de mim te despedias
(porque já sabias)
e com a mesma naturalidade
que me chegaste, disseste adeus.
Eu aceitei

Hoje,
alguém que conhecemos
e que nos conhecia
contou-me como foi
teu último dia,
meu herói de sempre
cavalheiro que se foi
da mesma forma que viveu
(morreu).
Com o teu sorriso largo,
o teu sabor de vinho
o teu carinho,
doando-se à vida,
todo o teu ser se misturando
aos pássaros e flores,
árvores e pedras,
terra e água,
o vento levando tuas cinzas
numa transmutação sagrada,
teu último projeto,
tua última obra de arquiteto,
tu meu amor, fazendo parte da paisagem,
de um universo repleto de ti.

Lamento pela morte de um grande amor - 1998 - Liane Flores .

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