sábado, 5 de junho de 2010

SENHORA DAS MAGIAS





Esta colcha de lembranças,
de momentos inesquecíveis,
de sonhos enlouquecidos
por medos jogados nos cantos,
nos pontos internos mais fundos,
das partes centrais mais difíceis.
EU SENHORA DAS MAGIAS
com visões de muitas eras,
trago feitiço no sangue
rasgando no tempo as quimeras.

Todo o mar que me habita,
todo o verde da floresta,
toda a marca que carrego,
tanta dor e tanta festa,
o muro que me aprisiona
tem o teu nome gravado,
todo o vento que me açoita
me carrega pro teu lado,
na terra que me fecunda
tua semente floresce
com sinal na minha testa.

As lutas, brigas, desforras,
te gravam no meu destino,
pra serenar tua alma
deste amor desesperado,
molhado de tanto pranto,
sofrido, injusto, magoado,
amor que maltrata e sufoca,
que fere de qualquer jeito,
desses que se carrega
pra sempre dentro do peito.

Tenho sonhos desenhados
em poemas intermináveis,
o dom mútuo dos amantes,
desejos nas pontas dos dedos,
palavras gravadas na mente
com tinta vermelha de sangue
das partes de nós mais feridas,
repletas de dor e silêncios,
segredos e aflições medonhas
que guardam as juras secretas.

TU SÓ NESSE QUARTO SECRETO,
EU SÓ NESSE ESCURO, MEU TETO,
COBERTOS PELA MESMA AUSÊNCIA,
NÓS DOIS!

Teço a colcha de lembranças
e todo o mar que me habita
sussurra teu nome e me agita,
todo o verde das florestas
pinta teus olhos nos cantos
das paredes, pelas frestas.
A lua da nossa festa,
testemunha incansável
do girar de nossas vidas,
roda-viva nas arestas,
risos, choros, despedidas.

Todo o vento que me açoita,
traz a terra que fecunda,
todos os rumos do meu corpo
tem sinais da tua marca,
presságios do meu destino,
que te trouxeram menino
bem depois da minha Era.
Nas linhas da mão esquerda,
o mapa da minha vida
diz que és meu alimento,
remédio pra minha ferida,
sangue queimando nas veias,
minha poção de veneno,
minha hora mais temida.

Não sou tua por direito,
és filho de um outro tempo,
espaço que já não tenho
para deitar no teu leito,
serenar a minha alma
desse amor desesperado,
que nos olhos me ofereces
de tanto pranto molhado,
teu e meu, justo e perfeito,
amor que sufoca e maltrata,
que vive de qualquer jeito,
desses que se carrega
PRA SEMPRE DENTRO DO PEITO.


Poema do livro Para Um Homem Chamado Silêncio - dir.res.Liane Flores

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