terça-feira, 25 de maio de 2010

TEIA DA ARANHA

E essa fogueira de muitos astros
pelo céu da tua boca,
e essa estrada de muitos rastros
pelos rumos do teu corpo,
e esse resto de muita festa
no fim dos teus sentidos,
e essas frestas de muitos risos
nos cantos dos teus olhos,
e esse sabor de promessa
nas entrelinhas da tua conversa,
e essas marcas de muitos dentes
em volta do teu pescoço,
e essa cicatriz descolorida
nas dobras da tua barriga,
e esses danos de muitas dores
nos rasgos da tua alma,
e esses prismas de muitas guerras
na máscara da tua calma,
e esse nó de marinheiro
nas cordas da tua garganta,
e esses fantasmas do passado
no fundo do teu armário,
e esses crimes que cometeste
debaixo do teu tapete,
e esse outro que te espreita
pelo espelho do teu banheiro,
e esses passos em descompasso
nas solas dos teus sapatos,
e esses medos que chaveias
no sotão e na gaveta,
e esse traço de covardia
nas malhas do teu enredo,
e essas mãos de dar carícias
tão pobres de malícias,
e esses ecos dos teus gemidos
pelos corredores do teu peito,
e essa cruz exagerada
nas costas dependurada?


Do livro Na Teia da Aranha - dir.Reservados Liane Flores - Ed. Movimento


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